Gonçalo Rodrigues Girão (morto em 1231)

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Gonçalo Rodrigues Girão
Mordomo-mor
Morte 1231
● Sancha Rodrigues
● Marquesa Peres
Pai Rodrigo Guterres Girão
Mãe Maria de Guzman

Gonçalo Rodrigues Girão (em castelhano: Gonzalo Rodríguez Girón; m. 1231)[a] também conhecido como Gonzalo Ruiz Girón, filho primogénito de Rodrigo Guterres Girão e de Maria de Guzman, foi um dos nobres mais ricos e poderosos da idade média na Tierra de Campos,[1] e um dos mais leais colaboradores do rei Afonso VIII, da rainha Berengária de Castela e depois do rei Fernando III.

Ponte sobre o rio Sequillo em Boadilla de Rioseco onde Gonzalo Rodríguez Girón tinha propriedades.

Serviços à coroa[editar | editar código-fonte]

Membro da cúria régia do rei Afonso VIII, foi seu mordomo-mor de 1198 até á morte do monarca em 1214. Junto com os seus irmãos Rodrigo, Pedro, Nuno e Alvaro, participou na Batalha das Navas de Tolosa que foi travada em 16 de julho de 1212.[2]

Depois da morte do rei Afonso VIII, foi mordomo do futuro rei Henrique I até que foi substituído em 29 Dezembro de 1216 por Martim Muñoz de Hinojosa por indicação do conde Álvaro Nunes de Lara,[3] que em 1215 tinha assumido a tutela do jovem rei contra a vontade da igreja e uma parte da nobreza.

Em fevereiro de 1216, foram convocadas umas cortes extraordinárias em Valladolid com a participação dos nobres castelhanos, que com o apoio da rainha Berengária, fizeram uma frente comum contra Álvaro Nunes de Lara. No final de maio do mesmo ano, Berengária decidiu refugiar-se no castelo de Autillo governado por Gonçalo Rodrigues Girão,[4] enviando o seu filho, o infante Fernando à corte de Leão com o seu pai o rei Afonso IX.[5]

Em 15 de agosto de 1216 todos os nobres do reino de Castela se reuniram para tentar chegar a um acordo a fim de evitar uma guerra civil. No entanto, devido a divergências, os Girão, Teles de Meneses, e Haros afastaram-se do conde de Lara.

De acordo com a Crônica Latina dos Reis de Castela, o ano 1217 foi de grande tensão, quanta nunquam fui tantea in Castella. O conde de Lara confrontou-se com a rainha Berengária e seus seguidores, liderados pelo conde Lope Díaz de Haro e Gonçalo Rodrigues Girão.[6] A rainha refugiou-se no castelo de Autillo e Álvaro Nunes de Lara, que não queria abandonar o poder alcançado, arrasou o vale do Trigueros, cercou Autillo onde estavam a rainha e os seus partidários, e destruiu Cisneros e Frechilla.[7]

Coronação do rei Fernando III em Valladolid (Crónica General)

As circunstâncias mudaram de repente quando o jovem rei Henrique morreu em 6 de junho de 1217[8] em consequência de um ferimento na cabeça causado por uma telha caida acidentalmente quando estava a brincar com outras crianças no pátio do palácio do bispo de Palência.[9] O seu tutor, o conde de Lara, tentou esconder os factos, e levou o cadáver do rei para o castelo de Tariego de Cerrato, mas não pôde evitar que a notícia chegasse ao conhecimento da rainha Berengária.

Imediatamente, a rainha encarregou Lope Díaz de Haro, Gonçalo Rodrigues Girón, e Afonso Teles de trazer para junto de si o seu filho, o infante Fernando, que na época estava em Toro com o seu pai o rei Afonso IX, usando como pretexto um imaginário ataque a Autillo, sem revelar a morte de seu irmão Henrique. Apesar da relutância das infantas Sancha e Dulce, os nobres convenceram o rei Afonso de que Henrique estava vivo e em seguida levaram de Toro o infante Fernando. Berengária, a legítima herdeira, renunciou ao trono de Castela a favor do seu filho Fernando, que pouco depois, em 14 de junho 1214, foi proclamado rei em Autillo de Campos e coroado em julho em Valladolid.

Tenencias, patrimônio e poder[editar | editar código-fonte]

Ruínas do Mosteiro de San Román de Entrepeñas

Uma vez que o reino foi pacificado e desapareceu o perigo representado pelo conde de Lara e o seus irmãos, a posição de Gonçalo consolidou-se. Foi mordomo-mor do rei Fernando III e proeminente membro da corte regia. Teve várias tenências durante diferentes períodos, incluindo Monzón, Liébana, La Pernía, Gatón de Campos, Herrín de Campos, Peñas Negras, Cervera, Guardo, a metade da importante tenência de Carrión — junto com o seu irmão Rodrigo Rodrigues Girão — e em 1194 sucedeu a seu pai na tenência do castelo de Torremormojón. Também aparece como senhor do castelo de Entrepeñas perto do Mosteiro de San Román de Entrepeñas em Santibáñez de la Peña e foi proprietário de vários lugares em Boadilla de Rioseco, Carrión, Cardeñosa de Volpejera, Revenga de Campos, Villasabariego de Ucieza e em Cordovilla.[10] Em 1221, Fernando III recompensou a sua lealdade e serviços com o senhorio de Autillo de Campos, mercê comfirmada posteriormente pelos sucessores do rei.

Benfeitor[editar | editar código-fonte]

Em 1209, fundou com a sua primeira esposa o Hospital de la Herrada, dando ao bispado de Palência administração de outro hospital que tinham em Carrión, no bairro de San Illodo e San Antonino, hospital que ficava no percurso francês do caminho de Santiago, junto a Carrión, para dar esmolas e acolher os peregrinos e curar as suas doenças.[10]

Gonzalo Rodrigues Girão faleceu cerca de 1231, o último ano que aparece na documentação, e foi sepultado no Hospital de la Herrada que havia fundado.

Matrimónios y descendência[editar | editar código-fonte]

Teve um primeiro casamento cerca de 1185 com Sancha Rodrigues (falecida entre 1209 e 1212).[10] Alguns autores consideram que Sancha era filha de Rodrigo Rodriguez de Lara, mas este personagem nunca foi documentado. O medievalista Jaime de Salazar y Acha diz que era filha do alferes real Rodrigo Fernandes de Toronho e de sua esposa Aldonça Peres.[11]

Um documento esclarecedor, citado por vários autores, menciona todos os filhos dos seus dois matrimónios, excepto Gonçalo. Em 8 de maio de 1222 na documentação da Catedral de Palência, Gonzalo, mordomo do rei, acompanhado pelos seus filhos e pela sua segunda esposa, confirma a doação de um hospital no distrito de San Zoilo de Carrión, a sede episcopal, com todos os seus bens e direitos. Os filhos do primeiro casamento foram:[12]

  • Rodrigo Gonçálves Girão, nascido antes de 1194 e falecido em 1256.
  • Gonçalo Gonçalves Girão (morto em 1258) chanceler-mor do rei Fernando III, a quem acompanhou em 1248 na conquista de Sevilha.[b][13]
  • Teresa Gonçalves Girão, que assina o documento de 1222 com o consentimento de seu marido, Rodrigo Gonçales.[c]
  • Maria Gonçalves Girão, também assina o referido documento com a aprovação de suo primeiro marido, Guilhén Peres de Gusmão, filho de Pedro Rodrigues de Gusmão e de Mahalda. Filha deste casamento foi Mor Guilhén de Gusmão, amante do rei Afonso X, a qual foi a mãe de Beatriz rainha consorte de Portugal pelo seu matrimónio com o rei Afonso III. Depois de enviuvar, Maria casou com Gil Vasques de Soverosa e teve descendência deste casamento.[11]
  • Aldonça Gonçalves Girão, assina o documento de 1222 com o consentimento de suo marido Ramiro Froilaz.
  • Elvira Gonçalves Girão (falecida depois de 1255), assina o referido documento em 1222 com o consentimento da abadessa do Mosteiro de Las Huelgas[d]
  • Sancha Gonçalves Girão (falecida depois de 1269), também monja, assina o documento de 1222 com a permissão da abadessa do Mosteiro de San Andres de Arroyo[e]
  • Brígida Gonçalves Girão, monja do Mosteiro de Santa Maria de la Consolación de Perales, também assina com o consentimento da abadessa.

Gonçalo casou uma segunda vez, cerca de maio 1213 com Marquesa Peres, provavelmente da casa dos Villalobos ou Manzanedo, embora a sua filiação não esteja confirmada.[14][f][g] Juntos assinaram o documento de 1222 que menciona os filhos deste casamento, todos menores á época.[15]Em 1224, Gonçalo e sua esposa Marquesa, doaram a igreja de Santa Maria de Baquerín ao Hospital de la Herrada que tinham fundado.[16]Os filhos deste segundo casamento, que não forma tão historicamente relevantes como os primeiros, foram:[16]

Notas[editar | editar código-fonte]

[a] ^ O ano da morte citado por outros historiadores, provavelmente segundo Jerónimo Gudiel, hagiógrafo de linhagem, é 1234. No entanto, a última aparição de Gonzalo foi em 1231 e, desde então, não aparece como dominante de nenhuma tenência. Cfr. Barón Faraldo (2006), p. 186, nota 351.
[b] ^ Documento 270 do referido mosteiro: (...) yo don Rodrigo Gonzalvez e yo, Gonzalvo Gonzalves amos hermanos (...) metemos nos amos hermanos nuestro seyellos en ella, et la abadesa el suio.
[c] ^ Os autores antigos dizem que este é Rodrigo Gonçales de Ceballos; Salazar y Acha, no entanto, afirma que poderia ser Rodrigo Gonçales de Orbaneja. Cfr. Salazar y Acha (1989) p. 82.
[d] ^ Em 1255 aparece na documentação do Hospital de La Herrada doando os seus bens em Autillo e Pozuelos de Baquerín. Cfr.Barón Faraldo (2006), p. 193.
[e] ^ Em 1269, Sancha, religiosa em San Andrés de Arroyo cedeu ao Hospital de La Herrada a sua herança em Autillo e Pozuelos de Baquerín: "...como yo, domna Sancha Gonzalez, fija de don Gonzalo e de donna Sancha Royz (...) con voluntad de la condesa donna María de Sant Andrés darroyo (...) por mi alma e por las almas de mi padre e de mi madre e de mios pairentes..."Cfr. Barón Faraldo (2006), p. 194.
[f] ^ Na documentação do rei Fernando III, figura que Gonçalo deu "carta de arras" á sua segunda esposa em 13 de maio de 1213 na qual incluía a metade do que possuía em Cisneros, Pozuelo, Baquerín, Petilla, Vega de Doña Olimpa, Quintanilla de Onsoña, Espinosa e Valdetrigueros.
[g] ^ Em agosto de 1214, Gonçalo e sua esposa Marquesa chegaram a um acordo para vincular a herança da Villa del Rey ao património do Hospital de la Herrada. No documento também diz que Marquesa lhe tinha emprestado algum dinheiro para pagar uma dívida de Teresa, filha da sua primeira esposa Sancha.
[h] ^ Em 1266 aparece com o título de condessa de Urgel na doação da sua herança em Becerril de Campos ao Hospital de la Herrada. Cfr. Barón Faraldo (2006) p. 194.
[i] ^ Em 1290, a sua filha Inés Lopes, cedeu ao Hospital de La Herrada todas as suas propriedades em Autillo de Campos, Fuentes de Nava e Becerril de Campos. Afirmou no documento que era a neta de Gonçalo Rodrigues e filha de Maior Gonçalves, filha do segundo matrimónio de Gonçalo com Marquesa Peres. Cfr. Barón Faraldo (2006) p. 194.
[j] ^ Em 10 de setembro de 1295 aparece Berengária Lopes, abadessa do Mosteiro de Las Huelgas declarando-se filha de D. Lopes "el Chico" e de Maior Gonçalves.Cfr. Castro Garrido e Lizoain Garrido (1987), Doc. 106, pp. 191-192.

Referências

  1. Barón Faraldo 2006, p. 181.
  2. Sánchez de Mora 2003, p. 238, Vol.1.
  3. Sánchez de Mora 2003, p. 236, Vol.1.
  4. Sánchez de Mora 2003, p. 259, Vol.1.
  5. Sánchez de Mora 2003, p. 254, Vol.1.
  6. Sánchez de Mora 2003, p. 264, Vol.1.
  7. Sánchez de Mora 2003, p. 265, Vol.1.
  8. Sánchez de Mora 2003, p. 267, Vol.1.
  9. Sánchez de Mora 2003, p. 266-267, Vol.1.
  10. a b c Barón Faraldo 2006, p. 182.
  11. a b Salazar y Acha 1989, p. 81.
  12. Salazar y Acha 1989, pp. 81-82.
  13. Barón Faraldo 2006, p. 190.
  14. Barón Faraldo 2006, p. 183.
  15. Barón Faraldo 2006, p. 184.
  16. a b Barón Faraldo 2006, p. 185.
  17. Fernández Xesta 2001, p. 26.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Barón Faraldo, Andrés (2006). Grupos y dominios aristocráticos en la Tierra de Campos oriental, Siglos X-XIII (em espanhol). Palencia: Monografías. ISBN 84-8173-122-6 
  • Castro Garrido, Araceli e Lizoain Garrido, José Manuel (1987). Documentación del Monasterio de Las Huelgas de Burgos (1284-1306) (em espanhol). Burgos: Ediciones J.M. Garrido Garrido. ISBN 84-86371-12-0 
  • Estepa Díez, Carlos (2003). Las Behetrías Castellanas, 2 tomos (em espanhol). Valladolid: Junta de Castilla y León, Consejería de Cultura y Turismo. ISBN 84-9718-117-4 
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  • Ruiz Gómez, Francisco (2003). Los orígenes de las órdenes militares y la repoblación de los territorios de La Mancha (1150-1250). Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas. ISBN 84-00-08159-5 
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  • Veas Arteseros, Francisco e Veas Arteseros, María del Carmen (1986). «Alférez Mayor y Mayordomo Real en el siglo XIII». Murcia. Miscelánea Medieval Murciana, Área de Historia Medieval (em espanhol). XIII: 29-48. ISSN 0210-4597 Verifique |issn= (ajuda)